Educação Profissional: práticas e representações
Última modificação: Sábado, 25 de outubro de 2025

Coordenadora
Prof.ª Dr.ª Isis Pimentel de Castro
Visão Geral
A preocupação do Estado com a formação para o trabalho remonta ao século XIX com a criação do Liceu de Artes e Ofícios (1856), no Rio de Janeiro, mesmo que em 1816 tivesse sido promulgado um decreto que estabelecia a criação de uma instituição real destinada às artes e aos ofícios. Encontramos experiências anteriores de formação de ofício entre os artesãos da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), instituição hegemônica na produção e difusão daquilo que deveria ser considerado arte no Segundo Reinado, que investiu deliberadamente nas distinções entre artistas e artesãos a partir de 1855. A partir dessa concepção de educação do olhar e da mão, o ensino artístico-técnico foi concebido como instrumento de civilização e utilidade pública, inaugurando uma tradição que atravessaria o Império e a República.
No século XX, especialmente durante o Estado Novo, o debate sobre a educação para o trabalho se amplia, ganhando novos contornos. Já no início do século XXI, com o Decreto nº 5.154/2004, consolida-se uma concepção de educação integrada, designada como educação técnica profissional, que articula o preparo para o mundo do trabalho à formação do cidadão, fortalecendo as disciplinas da chamada formação geral. Quatro anos depois, a Lei nº 11.892/2008 criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, ampliando a rede de instituições voltadas à educação técnica. Esse processo histórico, que tem articulado ensino, trabalho e instrução pública, inscreve sua historicidade não apenas em legislações, mas também em regimes de visualidade — nas reproduções presentes em materiais didáticos, nas fotografias 3×4 das fichas de alunos e nas coleções fotográficas de arquivos escolares.
O projeto propõe investigar, em perspectiva histórica, os modos de formação e de representação da educação profissional no Brasil, desde o ensino de artes e ofícios do século XIX até o contexto contemporâneo do Cefet-MG. Ao tratar o ensino técnico como um fenômeno histórico e cultural, o estudo insere-se na linha História e Historiografia da Educação Profissional, articulando-se diretamente à Área de Concentração em Educação Profissional e Tecnológica do Programa de Pós-graduação em Educação Tecnológica (PPGET) do Cefet-MG.
Busca-se compreender de que modo as instituições dedicadas à formação técnica produziram, ao longo do tempo, representações, práticas e memórias sobre o trabalho, o saber e a formação humana. No caso específico do Cefet-MG, a pesquisa destaca as trajetórias e experiências do movimento estudantil durante a ditadura militar, período em que emergiram tensões entre a formação técnica e a formação cidadã, e a produção de novos sentidos atribuídos à educação profissional por seus sujeitos.
O projeto também se articula às pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Pesquisa e Práticas em História (LAPPHIS) do Departamento de História (DHIS/Cefet-MG), onde se realizam atividades que integram ensino, pesquisa e extensão, fortalecendo o campo da História da Educação Profissional a partir de abordagens voltadas à memória institucional, às práticas formativas, às representações do trabalho e ao ensino de história. O LAPPHIS é atualmente coordenado pela professora Isis Castro.
O projeto vincula-se à trajetória de pesquisa da coordenadora e ao conjunto de estudos sobre imagens, ensino de História e cultura histórica, ampliando o olhar para as formas de representação do trabalho e para as instituições que, em diferentes contextos, articularam arte e/ou trabalho e formação.
Objetivo geral
Investigar, em perspectiva histórica, as práticas, representações e memórias relacionadas à formação para o trabalho no Brasil, desde o ensino de artes e ofícios do século XIX até o contexto contemporâneo, como o caso do Cefet-MG, evidenciando as continuidades e transformações das concepções de arte e/ou técnica e formação na história da educação profissional.
Objetivos específicos
- Analisar as tramas, disputas e discursos presentes nos projetos de ensino de ofícios no século XIX, considerando as experiências formativas da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e do Liceu de Artes e Ofícios como espaços de institucionalização do ensino voltado para o trabalho e de diferenciação entre artistas e artesãos;
- Analisar o Cefet-MG como caso exemplar, instituição de história centenária que, ao longo do século XX e início do XXI, confrontou diferentes políticas e concepções de educação profissional, destacando as práticas e experiências de seus sujeitos — como o movimento estudantil durante a ditadura militar — na construção de novos sentidos de formação e de atuação cidadã na educação técnica;
- Investigar as formas de representação e os regimes de visualidade produzidos pelas instituições de ensino técnico — em documentos, fotografias, materiais didáticos e arquivos escolares — como expressões da cultura formativa da educação profissional;
- Refletir sobre a historicidade da produção e da circulação de imagens na educação profissional, considerando as escolhas de autores e editoras na seleção das representações visuais reproduzidas em livros didáticos — tanto das disciplinas de formação geral quanto das áreas técnicas — desde a Primeira República;
- Articular a pesquisa histórica sobre a educação profissional ao estudo das representações do trabalho e aos processos formativos vinculados ao ensino de história e às ações realizadas no LAPPHIS;
- Contribuir para o fortalecimento da historiografia da educação profissional, integrando os eixos arte, ofício e técnica em uma abordagem que considere simultaneamente as dimensões culturais, institucionais e formativas da educação para o trabalho.
Temas e Objetos de estudo
1. As disputas sobre sentido de arte e ofício no século XIX:
Estudo das experiências formativas e dos projetos de ensino de ofícios no Império, com destaque para a Academia Imperial de Belas Artes e o Liceu de Artes e Ofícios, instituições que contribuíram para estabelecer distinções entre arte, técnica e ofício e para consolidar uma diferenciação tão consolidada no século seguinte.
2. O Cefet-MG como espaço de historicidade da educação profissional:
Análise da trajetória institucional do Cefet-MG, suas práticas formativas e experiências sociais, em especial no século XX.
3. Representações e regimes de visualidade na e da educação profissional:
Estudo das formas de representação do trabalho e da técnica em documentos, fotografias, materiais didáticos e arquivos escolares, entendendo-os como expressões da cultura formativa e vestígios visuais das práticas educativas e institucionais.

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